Eu tenho a sensação de que nunca vou conseguir dirigir na vida. Já houve umas e outras reclamando - reconheço, com razão - do fato de eu não saber no que difere o acelerador e a embreagem. Mentira, eu sei bem qual a diferença entre ambos: o primeiro serve pra acelerar - fico impressionada com a minha inteligência -, e o segundo para que você possa mexer naquele joystick que atrapalha - ou ajuda, depende do ponto de vista - os casais mais animados em horas de pegação dentro do carro.
O fato é que eu, como boa pessoa não abastada que sou, estava dentro do ônibus nosso de todo dia, indo praquele lugar onde sou, ao lado de minha ranzinza consorte, a grande expert universal do Photoshop. Entrei no veículo e, não tendo qualquer lugar vazio para sentar, saquei minha AK-47 e matei dois sentantes a sangue frio. Agora, assim como Perry Smith, irei para a forca. Não, não, não, eu fiquei no fundo do ônibus, com a mochila e a lancheira penduradas ao corpo feito um cabide de cigano.
Pensando na morte da bezerra e na quantidade de euros que perdi com a queda da bolsa, relaxo. Só sei que o baque foi rápido. Minha mochila foi parar a três quilômetros de distância de mim; a bolsa de uma distinta senhora só foi encontrada no colo de um homem que, após a avalanche, tinha a cara de quem foi vítima do Katrina. A sensação é de quem acaba de sair do liquidificador, com pedaços ainda a serem batidos.
A mãe do motorista foi uma das mais elogiadas da viagem e, após o "momento Playcenter," o filho da puta andou a zero por hora, atrasando a vida de todo mundo. Agora, pergunto: pra que eu preciso dirigir, se já tem gente demais nesse mundo capaz de matar todos numa única barberagem?