sábado, 25 de outubro de 2008

O que foge ao controle

É muito estranho você querer que tudo sempre dê certo e que as coisas boas durem para sempre. Sim. Acho isso muito estranho. Na verdade, eu me confundo muito; sempre. Fico pensando e até falo isso - sozinha: "como vou ficar quando isso tudo terminar, quando esse momento acabar, quando essa ou aquela pessoa que conheço, por algum motivo, não estiver mais perto de mim?"

Eu tenho medo de perder as pessoas que me são caras. Aquelas que já conheço há séculos e aquelas que conheci noutro dia. Passiono demais as coisas e fico assim, pensando no fim de um momento que ainda nem sonha em terminar.

Agora, nesse exato momento em que todos resolveram me cobrar. Nesse instante em que todos resolveram ficar carentes de mim, páro e penso: "será que esse é aquele fim do qual tenho medo?". Não, é só o desejo de que aquele tempo que eu tinha para todos os meus retorne. Nem que seja por apenas dois meses... até que tudo volte, de novo, ao estado de hoje.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

“Mãe, vô no shopping!”

É verdade. São Paulo tem shopping center demais. Tudo bem, virá uma “meia dúzia de três ou quatro”, como diria João Ubaldo Ribeiro, reclamar: “Você quer o quê? Não tem praia aqui mesmo, só nos restam os shoppings”. Só isto? Uma cidade tão grande, que mais parece um país dentro de outro, não merece “só isto”. O engraçado é que tudo em São Paulo é resolvido no shopping.

A hora do almoço é o momento de clímax. É tanta gente junta, que parece época de Natal, na Rua 25 de março. Bom, pelo menos, no shopping, não tem a turma do “rapa”. Outro dia, eu almoçava – sim, no shopping – e presenciei uma reunião de negócios. Como é que se discute ou negocia algo, em meio a uma turba ensandecida com hormônios alterados?

Eu acho que fui importada de outro mundo. Olho para um lado, vejo uma mãe alimentando um bebê com aquelas papinhas prontas, ao mesmo tempo em que devora o seu fast food; do outro, duas adolescentes – aos berros – conversam sobre o aniversário de um tal “Marcinho” na noite anterior. A pessoa que ali chega, apenas para comer rapidamente, sai com uma crise de enxaqueca que não cura nem com simpatia.

E o que dizer das crianças que correm pelos corredores? Eu me sinto em um jardim da infância às avessas, onde a criança é o penetra, disparando freneticamente entre os adultos. Ainda vai acontecer uma tragédia; vai ser criança caindo no andar debaixo ou atropelando alguma velhinha desequilibrada e desatenta.

Agora o que mata é saber que há teatro – é isto mesmo, casas de espetáculos – dentro de shopping. Alguém já avisou aos interessados que são duas coisas que não combinam? Se isto virar moda, daqui a pouco vai ter gente achando que se compra roupa no teatro; algo do tipo: “Vou ali no teatro comprar uma calça e um par de meias e já volto”.

E por que se instituiu que se vai “no teatro”, “no shopping”? Se toda vez que isto fosse dito, o Professor Pasquale sentisse cãibra, ele já teria amputado as pernas. E eu passei minha adolescência dizendo: “Mãe, vô no shopping!”. Até que, um dia, fui corrigida por uma professora de matemática do ensino médio. Que ironia do destino. Eu, que sempre odiei matemática, fui corrigida por uma professora da disciplina. E por um erro de português!

O fato é que indo “no shopping” ou “ao shopping”, o paulistano adora este programa de índio. E eu, que já bebi desta fonte, fico me perguntando se, naquele tempo, a vida era mais alegre. É, acho que não. Hoje, eu me sentiria muito sozinha naquele mar de gente.

sábado, 11 de outubro de 2008

Da inexistência de título ...

Eu olho muito pro lado. Insisto em olhar para o lado, mesmo quando devia somente olhar para frente. Também olho muito para trás.

Escrevo. Desfaço. Refaço. Não faço nada.
Procuro. Não acho.
Entro. Saio.
Vejo. E não olho.
Sinto e sou insensível.

Vou. Volto. Fico e permaneço.

Escrevo...

domingo, 5 de outubro de 2008

"No dia em que festejavam o dia dos meus anos"

É um dia como outro qualquer. Você acorda, percebe que é domingo e pensa: "que bom que consegui dormir até mais tarde". O cheiro da comida já convida para um momento de prazer. Não há cheiro de almoço mais gostoso do que o daqui de casa. É aquele cheiro de fome que só ela sabe fazer. E te chama como se você fosse a pessoa mais importante do mundo.

O tempo é de primavera. A chuva vem para levar os 27 anos que se foram cheios de loucuras, deleites, angústias, amores e vontades. Espero que o que chegou para conviver pelo próximo período, fique mais quietinho, mais sereno. Ao mesmo tempo, que ele venha vibrante.

Meu desejo não quer pouco.

sábado, 4 de outubro de 2008

Ausência dos sentidos

Acho que eu tenho todos os buracos da cabeça - eu disse da cabeça - tampados. Com o ouvido esquerdo eu já não ouço mais nada (a cera contida nele virou concreto), meus olhos ardem feito o Sol do meio dia, minhas vias respiratórias agora são ocupadas pela sinusite. Quanto à boca, prefiro não comentar.

Os sete buracos da minha cabeça precisam de um desvio na rota normal do dia-a-dia. O primeiro passo: otorrinolaringologista marcado para a próxima terça-feira. Quem sabe a sensação de que há alguém sussurrando no meu ouvido passa. Se não for a cera, só pode ser encosto mesmo.